Um dia com o Governador
Podia dizer-se que o dia acabou como começou, mas apenas se iria ao encontro do cliché. Principiou com um governador de pasta na mão e acabou com Paiva de Carvalho em cima de um tractor, às 10 da noite, de fato e gravata. Em Rascoia, Avelar, concelho de Ansião, Paiva de Carvalho revela-se na subtileza da memória dos avós que já naquela casa haviam ensinado ciências e letras a muito boa gente que acabou formada em Coimbra, num tempo em que a licenciatura era só para alguns bolsos e a sapiência apenas para raras mentes. Revela-se na lembrança do pai, “o grande farol” da sua vida, também testemunhada nas fotografias semeadas pela casa, pela família emoldurada que vai habitando as paredes, as mesmas que conseguiram salvar da ruína através de um projecto de recuperação que deu alma aos seis hectares de terreno. Aqui, os dois lugares - o assento do veículo e a cadeira de governador – são incomparáveis, mas genuínos. Cabe apenas a ele enquanto médico saber se é incurável ou não. “Sou, de facto, para muitos com um sorriso, um certo romântico, não é? A música pode fazer-me chorar ao fim de alguns minutos. Mas posso passar-me completamente quando vejo uma malandrice, uma sacanice e estar meia hora a desancar sobre uma determinada situação ou pessoa”, adverte. Sublinha que José Miguel Medeiros era mais jovem e tinha mais energia, porventura. Perguntamos se seria obra das sestas, mas Paiva de Carvalho acaba com o mito: “ele não dormia as sestas. Pertence é ao clube! [Associação Portuguesa dos Amigos da Sesta]”. Ainda assim, revela, destacando a confiança na condução do seu motorista, “às vezes já adormeço quando venho para Avelar ao final do dia”. | |
Info:Texto deJoão Carreira Fotos deJoaquim Dâmaso | Região de Leiria, 8Ago08 |